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O Trabalhador Honesto

Zo d’Axa (1898)

terça-feira 1 de Março de 2011

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É incrível, como é o grosso da massa dos explorados que gera a ambição lógica e crescente de seus exploradores.

Os reis das minas, dos campos de carvão, e de ouro estariam errados em se preocupar. A resignação de seus servos consagram sua autoridade. Eles não mais precisam clamar que seu poder é baseado no direito divino, aquela piada ilustrativa: sua riqueza é legitimada por consenso popular. Um plebiscito de trabalhadores, constituído por adesão patriótica, planitudes declamatórias ou aquiescência silenciosa assegura as posses do patrão e o reino da burguesia.

Nesta obra podemos reconhecer o artifício. Seja na mina ou na fábrica, o Trabalhador Honesto, aquela ovelha, tem dado seus filhos para a praga.

O ideal do supervisor perverteu os instintos das pessoas. Vestido informalmente num domingo de sol, falando de política, votando... estas são as esperanças que tomam espaço de tudo mais. O odioso trabalho diário se ergue sem raiva ou rancor. O grande partido dos trabalhadores odeia os preguiçosos que mal conseguem ganhar o dinheiro garantido a eles por seus seus patrões.

Seus corações pertencem aos seus trabalhos.

Eles têm orgulho de suas mãos calejadas.

No entanto, não importa o quão deformados ficaram os dedos, o jugo deformou as mentes ainda mais: os surtos de resignação, de covardia, de respeito têm crescido sob o couro com o qual lhes chicoteiam. Em vão, velhos trabalhadores vestem seus certificados: quarenta anos no mesmo lugar! Ouvimos eles falando sempre que imploram por pão nas esquinas e nas praças.

"Tenham piedade, senhoras e senhores, de um pobre velho doente, um trabalhador corajoso, um bom francês, um oficial aposentado sem pensão que lutou na guerra... tenham pena, senhoras e senhores."

Está frio: portas e janelas permanecem fechadas. O velho não compreende.

Mostre as pessoas! O que mais é necessário? Sua pobreza não lhe ensinou nada. Desde que haja os ricos e os pobres, estes últimos irão se dobrar o máximo para suprir todos os serviços demandados. É o pescoço do trabalhador que é usado como escudo. Quando ainda jovens e fortes eles são apenas animais domésticos para não correrem selvagens para fora dos eixos.

A honra especial do proletário consiste em aceitar todas aquelas mentiras em nome das quais é condenado ao trabalho forçado: dever, pátria, etc. Ele aceita, esperando que, ao se submeter, poderá ascender àclasse burguesa. A vítima faz de si própria um cúmplice. O desafortunado fala da bandeira, bate em seu peito, tira seu chapéu e cospe no ar:

"Sou um trabalhador honesto."

E o cuspe volta direto para sua cara.

Zo D’Axa

O texto abaixo foi publicado na revista La Feuille, número 24, no ano de 1898.